sábado, 3 de março de 2012

Confesso

Lamento este meio cruel em que lhe ensinaram a vida. Onde uma das mãos que te fez foi embora e a outra ficou para se agarrar a outras tão impuras.
Destas mãos impuras recebeste todo tipo de humilhação e descaso.
Destas bocas ferozes recebeste os insultos, o exaspero.
Destes corpos "adultos" recebeste a indiferença. E sempre soubes viver com isso tão bem.
Fazendo-se de muralha, impenetrável simplesmente por ser.
Encontraste mãos para as suas se agarrarem. Dessas mãos, recebeste mais do mesmo.
Recebeste o prazer de corpos alheios, entregues ao seu.
Recebeste gemidos destas bocas, além dos gritos e do exaspero.
Você deixou essas mãos. Essas bocas. Esses corpos. Desistiu quando seu corpo pediu descanso.
Desistiu em silêncio. Sem gritar. Sem bater porta. Prometendo uma amizade, selando gentileza.
E então eu me questiono... foi desta boca que ouviste todas as palavras doces, as palavras de amor quase precipitadas, os pedidos vacilantes, os sorrisos mais sinceros e algumas poucas palavras mal ditas.
Deste corpo que recebeste a força que não aparenta, a disposição instantânea, os abraços e os movimentos desajeitados e acima de tudo o cansaço levado além do limite.
Destas mãos que recebeste carinho, ajuda, um anel esquecido numa pia de banheiro.
Deste conjunto que queres abdicar. Porque queres descansar. Porque não te faz bem. Porque a vida é mais.
Tens somente a ti e queres permanecer assim.
Solta no vento para passar frio.

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