Lamento este meio cruel em que lhe ensinaram a vida. Onde uma das mãos que te fez foi embora e a outra ficou para se agarrar a outras tão impuras.
Destas mãos impuras recebeste todo tipo de humilhação e descaso.
Destas bocas ferozes recebeste os insultos, o exaspero.
Destes corpos "adultos" recebeste a indiferença. E sempre soubes viver com isso tão bem.
Fazendo-se de muralha, impenetrável simplesmente por ser.
Encontraste mãos para as suas se agarrarem. Dessas mãos, recebeste mais do mesmo.
Recebeste o prazer de corpos alheios, entregues ao seu.
Recebeste gemidos destas bocas, além dos gritos e do exaspero.
Você deixou essas mãos. Essas bocas. Esses corpos. Desistiu quando seu corpo pediu descanso.
Desistiu em silêncio. Sem gritar. Sem bater porta. Prometendo uma amizade, selando gentileza.
E então eu me questiono... foi desta boca que ouviste todas as palavras doces, as palavras de amor quase precipitadas, os pedidos vacilantes, os sorrisos mais sinceros e algumas poucas palavras mal ditas.
Deste corpo que recebeste a força que não aparenta, a disposição instantânea, os abraços e os movimentos desajeitados e acima de tudo o cansaço levado além do limite.
Destas mãos que recebeste carinho, ajuda, um anel esquecido numa pia de banheiro.
Deste conjunto que queres abdicar. Porque queres descansar. Porque não te faz bem. Porque a vida é mais.
Tens somente a ti e queres permanecer assim.
Solta no vento para passar frio.
sábado, 3 de março de 2012
quinta-feira, 1 de março de 2012
Patronize
E então chega esse momento, estranho, em que suas energias foram sugadas na cara dura. Por essas pessoas que não fazem mais do que roubar a vida que pulsa.
Elas roubaram a sua. Elas roubaram a minha. Eu quis te roubar pra mim e bati em você. Te feri com os meus dentes e com as minhas unhas.
Eu fui até os seus ossos. Eu penetrei no seu corpo.
Puxei da sua boca todas as verdades e também todas as mentiras.
Uni o meu espírito ao seu. Troquei contigo meu fluido vital. A minha continuidade. Plantei no seu jardim um campo de rosas, que agora estão devastadas pelo vento forte. Os espinhos ficaram, como sempre.
Mas amanhã é dia de sol. A vida sempre continua. A natureza revigora e faz crescer novamente.
Amanhã estarei longe. Muito longe.
E esta distância só me serve para tirar meus olhos do seu corpo e fazer que quando eu volte ele pareça mais forte do que nunca.
Eu estou te deixando para que você possa crescer novamente em meio às flores que te dei.
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