quinta-feira, 17 de março de 2011

Hole

Eu vejo as pessoas se entregando aos seus vícios logo cedo. Consumindo-se numa banalidade solta, numa trivialidade já rotineira, esquecendo de tudo, por mais breve que seja, e eu aqui.
Uma vasta gama de ilusões, de atalhos, de catalisadores para a alegria instantânea. E eu aqui.
Correndo demais na contramão. Sofrendo por antecipação.
É que sou dessas. Entrego-me à melancolia que já tem lugar cativo por aqui. Quase contrato de exclusividade. Mas, onde é que eu assino mesmo?
Inexiste muita vontade de tanta coisa, e de repente essa torrente que me amarra e arrasta. Ao mesmo tempo em que atordoa. Fico aqui, estática, olhando para o nada, deixando doer.
Nem é dor. É só o caminho do pó.

terça-feira, 15 de março de 2011

Um dia de cada vez

E esse frio a que me remetes, esse caos interior, tão leve e tão pesado em sua ligeira passagem. Então me assola e me inverte, revira as minhas gavetas e o que resta está assim, estirado no chão.
Faz-me mergulhar num íntimo que há muito guardei para tempos mais serenos, mas que no furor dos dias amenos, estes dias, faz-se presente, cobrando solução, parecer. Sentença.
E por essas linhas tortas e estas já borradas palavras vindas dessa velocidade hostil que emprego de forma desigual, você me salta aos olhos. Que ardem. Tens hoje meus olhos inquietos. Estes já tão acostumados a mirar serenamente o infinito que sempre vem.
Troquei o laranja da aurora ou a clareza que vem com a alvorada por essa cor indefinida, essa distorção minuciosa que vem com o atordoamento certeiro que poucas coisas trazem.
Nesta desordem desfaço as malas.

Suspiro

Ando aos saltos, com passos largos e os pés distantes. A respiração rápida. O descompasso, o turbilhão.
Ando às lágrimas, aos suspiros, com um vazio interior. Respirando o sal que me fez e hoje me corrói.
Ando rindo à toa, com riso tímido de final de tarde, com lábios contraídos ao despertar. Lábios entreabertos para receber.
Ando sem defesa, deixando-me acertar pelo que vier, absorvendo todo um espectro que me persegue, e eu, humildemente, deixo entrar.
Há de ser pro bem. Não importa o que seja, ou mesmo quem. Eu te absorvo, eu te devoro e me dilacero aos sobressaltos.